Ele chegou prometendo justiça, transparência e o fim dos erros capitais de arbitragem que assombravam o futebol. O Árbitro Assistente de Vídeo, ou simplesmente VAR (do inglês, Video Assistant Referee), desembarcou no Brasil com status de salvador, uma ferramenta tecnológica capaz de corrigir decisões equivocadas e garantir a lisura das competições. Anos após sua implementação, no entanto, a ferramenta que deveria trazer paz se tornou, ironicamente, um dos maiores focos de polêmica, debates acalorados e desconfiança no futebol brasileiro. Em 2025, a situação parece longe de uma solução, com lances controversos e críticas à sua aplicação se acumulando rodada após rodada.
Mas afinal, o VAR é o herói que veio para limpar o jogo ou se tornou um vilão que adiciona mais combustível à fogueira das discussões sobre arbitragem? Neste post, vamos mergulhar fundo nas controvérsias que cercam o VAR no Brasil, analisar os erros e acertos de 2025 e tentar entender por que a ferramenta ainda divide tantas opiniões.
A Promessa Original: Justiça e Menos Erros
Antes de entrarmos nas polêmicas, é crucial relembrar o propósito original do VAR. A tecnologia foi introduzida para auxiliar o árbitro de campo em quatro situações cruciais que podem alterar o resultado de uma partida:
- 1 – Gols: Verificar se houve alguma irregularidade na jogada que resultou em gol (impedimento, falta, toque de mão).
- 2 – Pênaltis: Analisar se um pênalti foi corretamente marcado ou deixado de marcar.
- 3 – Cartões Vermelhos Diretos: Revisar lances que podem ter resultado em uma expulsão direta (não segundo cartão amarelo).
- 4 – Identificação de Jogadores: Corrigir a identificação de um jogador ao aplicar um cartão amarelo ou vermelho.
A ideia era intervir apenas em erros claros e óbvios, minimizando a interferência no fluxo do jogo e garantindo que injustiças flagrantes fossem corrigidas. A expectativa era de um futebol mais justo e com menos espaço para os “erros humanos” que tanto geravam reclamações.
A Realidade Brasileira em 2025: Inconsistência e Controvérsia
Avançamos para 2025, e a percepção geral é que a promessa do VAR ainda não foi totalmente cumprida no Brasil. Pelo contrário, a ferramenta parece ter criado novas camadas de complexidade e controvérsia. As principais críticas se concentram em:
- Inconsistência de Critérios: Lances semelhantes são interpretados de maneiras diferentes em jogos distintos, ou até mesmo dentro da mesma partida. A falta de um critério unificado para mãos na bola, disputas de corpo e intensidade de faltas gera enorme frustração em jogadores, técnicos e torcedores.
- Demora Excessiva nas Revisões: Algumas checagens do VAR levam minutos intermináveis, quebrando o ritmo do jogo, esfriando os ânimos e testando a paciência de todos no estádio e em casa.
- Interpretação vs. Fato: O VAR deveria focar em lances factuais (impedimento, bola dentro ou fora), mas muitas vezes entra em lances interpretativos, substituindo a decisão de campo do árbitro por outra interpretação, o que gera questionamentos sobre a autonomia da arbitragem principal.
- Falta de Transparência (Apesar dos Áudios): Embora a CBF divulgue os áudios das conversas entre o árbitro de campo e a cabine do VAR em lances polêmicos, muitas vezes as explicações não convencem ou revelam diálogos confusos e pressões externas, como visto em casos recentes envolvendo pênaltis em clássicos como Palmeiras x Flamengo ou Juventude x Grêmio em 2025.
- Erros Grosseiros Persistem: Mesmo com a tecnologia, erros considerados absurdos continuam acontecendo, levantando dúvidas sobre a qualidade da operação do VAR, a capacidade dos árbitros envolvidos e até mesmo gerando teorias conspiratórias sobre “máfia do apito”, como ecoam em vídeos e comentários online.
Por Que Tanta Polêmica? Desvendando as Causas
Vários fatores contribuem para o cenário conturbado do VAR no Brasil:
- Interpretação das Regras: O livro de regras do futebol possui áreas cinzentas, especialmente em lances de mão na bola ou disputas físicas. A interpretação dessas regras pode variar entre os árbitros.
- Pressão e Ambiente: A pressão por resultados no futebol brasileiro é imensa. Árbitros (de campo e de vídeo) trabalham sob constante escrutínio e críticas, o que pode afetar a tomada de decisão.
- Comunicação: Falhas na comunicação entre a cabine do VAR e o árbitro de campo podem levar a decisões equivocadas ou demoradas.
- Qualificação e Treinamento: Questiona-se se todos os árbitros (campo e VAR) possuem o treinamento e a qualificação adequados para operar a ferramenta sob pressão e com a consistência necessária.
- Tecnologia e Implementação: Embora a tecnologia exista, a qualidade das câmeras, ângulos disponíveis e a própria infraestrutura podem influenciar na precisão das análises em alguns estádios.
Recentemente, a CBF chegou a alterar árbitros escalados para o VAR após polêmicas em jogos anteriores, como no caso envolvendo Cruzeiro e Internacional, indicando um reconhecimento interno das falhas, mas sem apresentar ainda uma solução definitiva.
O Impacto no Jogo e a Busca por Soluções
O VAR mudou a dinâmica do futebol. Os jogadores agora hesitam em comemorar gols imediatamente, esperando a confirmação. A tensão nas arquibancadas aumenta durante as longas pausas para revisão. A própria figura do árbitro de campo parece ter perdido parte de sua autoridade.
Para que o VAR cumpra seu papel original, algumas medidas são apontadas como necessárias:
- Unificação de Critérios: Investir em treinamento intensivo e diretrizes claras para unificar a interpretação das regras.
- Melhorar a Comunicação: Aprimorar os protocolos de comunicação entre campo e cabine, tornando-os mais rápidos e eficientes.
- Transparência Real: Ir além da divulgação dos áudios, talvez com explicações mais detalhadas das decisões ou até mesmo a comunicação ao vivo para o público no estádio (como em outros esportes).
- Tecnologia: Garantir que todos os estádios tenham a infraestrutura tecnológica adequada.
- Menos Interferência: Reforçar o princípio de intervir apenas em erros claros e óbvios, devolvendo mais autonomia ao árbitro de campo em lances interpretativos.
Conclusão: Um Caminho Longo Para a Confiança
O VAR tem potencial para ser uma ferramenta extremamente positiva para o futebol, corrigindo injustiças históricas. No entanto, sua implementação no Brasil tem sido marcada por uma turbulência que mina a confiança na arbitragem e na própria tecnologia. Os erros e inconsistências de 2025 mostram que há um longo caminho a percorrer.
Não se trata de abolir o VAR, mas sim de aprimorá-lo urgentemente. É preciso mais investimento em treinamento, tecnologia, clareza nos protocolos e, acima de tudo, consistência nas decisões. Só assim o VAR deixará de ser um personagem controverso para se tornar o coadjuvante discreto e eficiente que sempre deveria ter sido.
Qual a sua visão sobre o VAR no futebol brasileiro? Ele mais ajuda ou atrapalha? Compartilhe sua opinião nos comentários!